segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Monge e o gato

Um grande mestre zen budista, responsável pelo mosteiro de Mayu Kagi, tinha um gato, que era sua verdadeira paixão na vida. Assim, durante as aulas de meditação, mantinha o gato ao seu lado - para desfrutar o mais possível de sua companhia.

Certa manhã, o mestre - que já estava bastante velho - apareceu morto. O discípulo mais graduado ocupou seu lugar.

- O que vamos fazer com o gato? - perguntaram os outros monges.

Numa homenagem à lembrança de seu antigo instrutor, o novo mestre decidiu permitir que o gato continuasse freqüentando as aulas de zen-budismo.

Alguns discípulos de mosteiros vizinhos, que viajavam muito pela região, descobriram que, num dos mais afamados templos do local, um gato participava das meditações. A história começou a correr.

Muitos anos se passaram. O gato morreu, mas os alunos do mosteiro estavam tão acostumados com a sua presença, que arranjaram outro gato. Enquanto isso, os outros templos começaram a introduzir gatos em suas meditações: acreditavam que o gato era o verdadeiro responsável pela fama e a qualidade do ensino de Mayu Kagi e esqueciam-se que o antigo mestre era um excelente instrutor.

Uma geração se passou e começaram a surgir tratados técnicos sobre a importância do gato na meditação zen. Um professor universitário desenvolveu uma tese - aceita pela comunidade acadêmica - que o felino tinha capacidade de aumentar a concentração humana e eliminar as energias negativas.

E assim, durante um século, o gato foi considerado como parte essencial no estudo do zen-budismo naquela região.

Até que apareceu um mestre que tinha alergia a pêlos de animais domésticos e resolveu tirar o gato de suas práticas diárias com os alunos.

Houve uma grande reação negativa - mas o mestre insistiu. Como era um excelente instrutor, os alunos continuavam com o mesmo rendimento escolar, apesar da ausência do gato.

Pouco a pouco, os mosteiros - sempre em busca de idéias novas, e já cansados de ter que alimentar tantos gatos - foram eliminando os animais das aulas. Em vinte anos, começaram a surgir novas teses revolucionárias - com títulos convincentes como "A importância da meditação sem o gato", ou "Equilibrando o universo zen apenas pelo poder da mente, sem a ajuda de animais".

Mais um século se passou e o gato saiu por completo do ritual de meditação zen naquela região. Mas foram precisos duzentos anos para que tudo voltasse ao normal - já que ninguém se perguntou, durante todo este tempo, por que o gato estava ali.

E quantos de nós, em nossas vidas, ousamos perguntar: por que tenho que agir desta maneira? Até que ponto, naquilo que fazemos, estamos usando "gatos" inúteis, que não temos coragem de eliminar, porque nos disseram que os "gatos" eram importantes para que tudo funcionasse bem?

Por que não buscamos uma maneira diferente de agir?
Autor desconhecido
Namaste

9 comentários:

Isabel José António disse...

Caro Amigo Marcos Takata,

Muito importnate o texto que postou. Belíssimo.

Ele mostra que, quando se inicia um caminho espiritual, pode ser que sejam necessários alguns pontos que nos induzam para percorrermos esse caminho (sejam gatos, gurus, pedras preciosas magnetizadas, etc., etc.)

Mas o caminho tem que ser percorrido porque o discípulo QUER E SENTE NECESSIDADE de o percorrer, com ou sem gatos ou outros incentivos.

E o caminho faz-se caminhando. E a determinada altura a mente e a vontade já estão tão fortalecidas que não têm mais necessidades de incentivos exteriores.

Anda! Caminha e vai à descoberta!
Aventura-te pelo grande emaranhado
Encontrarás sempre uma porta aberta
E terás alento na via do discipulado

Verdade que é terra sem caminhos
Onde iniciar um trilho é mister
Mesmo que seja por entre espinhos
Atér se encontrar a esência do SER

Um grande abraço

Namasté

José António

Marcos Takata disse...

Realmente este texto mostra o quanto se apegam aos coisas exteriores, e distancia daquilo que realmente é importante. Obrigado José Antônio.
Namasté

Tereza Ferraz disse...

Namaste Marcos!
Excelente texto.
Abraço

Maria José Speglich disse...

Belo blog.
Bastante ensinamentos.

Um abraço!

Anônimo disse...

Bom texto e de certa forma seguem-se os ventos.
Abraço
Bya

Norma Villares disse...

Muito interesante este texto sobre os condicionamentos. E o pior é a falta de questionamentos, o normótico nunca questiona nada. Parabéns Marcos. Sublimes abraços

Marcos Takata disse...

Estes condicionamentos aprisionam. Obrigado pelos comentários

Gaivotadourada22 disse...

Caro Marcos...
O texto nos mostra como somos superficiais e nos apegamos com rapidez pelas aparencias, sem questionar a essência... Na verdade o Amor do Mestre pelo seu Gato é que era relevante, o Amor , o respeito pelos seres era o ensinamento da quela atitude, e viram a penas a presença do Gato... Precisamos sim caminhar, mas não somente trilhar um caminho, temos que trilhar também os caminhos do coração!!!
Um grande abraço!

Ricardo Joris disse...

Gatos são seres evoluídos. Conta também uma lenda que este animal foi o único que não se admirou com a Iluminação de Buda.

Ele provavelmente estava presente no evento e, quem sabe, até ajudou:

http://gatosepapos.blogspot.com/2011/04/gautama-e-o-gato.html